A planta forrageira é um componente importante no sistema de produção a pasto, ao lado do solo, do animal, da atmosfera (clima) e do homem, o manejador e controlador do sistema.
O tipo de capim existente na pastagem é importante, porque influencia a produção de forragem da pastagem, já que cada capim tem um potencial genético diferente para crescimento.
O tipo de capim também pode influenciar a qualidade da forragem produzida, na medida em que cada capim tem uma genética para produção de forragem com mais ou menos colmo (talo) ou com melhor ou pior valor nutritivo.
Em função do reconhecimento da relevância do capim para o sistema de produção, é comum que o pecuarista procure escolher um capim que tenha boas características morfológicas, agronômicas e zootécnicas.
Idealmente, muitos pecuaristas buscam por um capim que reúna todas as características desejáveis numa mesma planta, tais como:
– alta produção de forragem durante todas as estações do ano;
– resistência ilimitada ao fogo e ao superpastejo;
– que não perde qualidade com a idade;
– que produz muita folha, sem produzir colmo (talo);
– baixa exigência em fertilidade de solo, tornando desnecessária a adubação;
– resistência a todas as pragas e doenças;
– tolerância a qualquer tipo de solo (seco e encharcado); dentre outras.
Infelizmente, tenho uma notícia ruim para dar para esses pecuaristas: esse capim milagroso, que reúne todas as características anteriormente descritas numa só planta, não existe e nem existirá.
Isso ocorre, porque é incompatível, do ponto de vista biológico, que uma única espécie e, ou cultivar de capim reúna algumas dessas características desejáveis.
Vejamos alguns exemplos!
A alta produção de forragem é impossível de ocorrer em capins com baixa exigência em fertilidade do solo. Quanto mais um capim cresce, mais nutrientes ele precisa extrair do solo. Sem esses nutrientes em boa quantidade no solo, não há crescimento do pasto em altas taxas.
Na época de seca, devido ao déficit de água, o capim pára de crescer ou cresce bem pouco. Isso acontece, porque, com a escassez de água, todos os processos fisiológicos (absorção de nutrientes do solo, fotossíntese, respiração, etc) da planta são comprometidos. Desse modo, não tem como haver um capim que produz muta forragem na época de seca.
Todo capim também perde qualidade com a idade. Com o avanço do crescimento do pasto, as plantas ficam mais pesadas. Com isso, seu colmo, um órgão de pior valor nutritivo (rico em fibra indigestível e com baixo teor proteico), fica mais desenvolvido, o que prejudica a qualidade da forragem produzida.
Diante disso, o mais sensato e correto é usar na propriedade rural diversos capins, cada qual apropriado aos diferentes tipos de pastagens existentes numa mesma fazenda. Por isso, eu costumo dizer que o pecuarista deve montar o seu “time de capins”, com, ao menos, cinco capins diferentes na mesma fazenda.
Nesse sentido, é recomendável ter um capim para usar mais na época de seca, como a maioria das braquiárias (marandu, piatã, paiaguás, braúna, etc).
Também é importante usar capins que crescem mais rápido, assim que começam as primeiras chuvas de primavera, como os capins andropógon e massai.
Depois, o uso de capins com alto potencial de produção no meio do período chuvoso também é apropriado, como os capins do gênero Panicum (mombaça, zuri, paredão, miyagui, etc).
É curioso notar que muitos pecuaristas buscam por um capim milagroso, supervalorizando a escolha do capim, como se essa única tomada de decisão fosse capaz de resolver praticamente todos os problemas de seu sistema de produção.
Essa postura indica uma valorização ou um reconhecimento da importância do capim no sistema de produção animal a pasto.
Porém, paradoxalmente, muitos pecuaristas não manejam adequadamente o capim, passada a fase de estabelecimento da pastagem. Isso indica que aquela valorização inicial conferida ao capim não perdura, o que é um erro.
Assim, fique esperto! Não acredite em capim milagroso!
Até uma próxima!