Com as informações que compartilho no meu perfil do Instagram, tenho como objetivo, única e exclusivamente, despertar a curiosidade ou o interesse no meu público sobre um determinado assunto. O tempo ou o espaço disponível para tais publicações no Instagram são limitados, de modo que em um só post não consigo detalhar um tema por inteiro. Dessa forma, a visualização de uma única postagem no Instagram é insuficiente para o completo entendimento sobre o assunto. Ainda há muito mais a ser aprendido.
Nesse sentido, eu lhe proponho uma analogia, que é uma comparação entre fatos diferentes, porém com características em comum. Nessa analogia, o conteúdo do Instagram pode ser comparado à porção visível (acima da superfície do oceano) de um icebergue, que normalmente corresponde à cerca de 10 % de todo o seu volume. O volume restante do icebergue (aproximadamente 90%), que se encontra submerso, pode ser comparado à quantidade de informações importantes sobre um determinado assunto que não são visíveis no conteúdo de um posto do Instagram. Portanto, se você quiser saber mais sobre um assunto, após percebê-lo em uma postagem do Instagram, terá que buscar tais informações adicionais em outras fontes confiáveis, como os livros técnicos da Livraria Bom de Pasto.
Devido à limitação de tempo e de espaço em uma única postagem no Instagram, em geral, acabo fazendo várias sobre o mesmo assunto, de maneira que, em cada postagem, uma pequena fração da informação é apresentada. Com o conjunto dessas postagens, tento englobar mais informações sobre o assunto. Mas tal estratégia, por compartimentalizar a informação em várias “pílulas”, tem limitações. Por exemplo, quem garante que a pessoa irá assistir todas as postagens? E, no caso de a pessoa assisti-las, não há garantia de que essa visualização ocorrerá de maneira sequencial. O acesso às informações sem uma sequência lógica e hierárquica correta (de forma desorganizada, portanto) compromete a comunicação. E, infelizmente, isso é comum nas redes sociais.
Em função desses aspectos (informação incompleta em cada postagem e acessada numa sequência desorganizada), ao longo de minha pequena experiência na divulgação de conteúdos técnicos-científicos sobre Forragicultura, com ênfase no “manejo de pastagem” e usando o Instagram, houve situações em que tive dificuldades em minha comunicação. Nesse contexto, tomo a liberdade de expor um exemplo para vocês.
Em uma primeira postagem sobre o tema “efeitos da altura do pasto no final da época seca sobre a produção da pastagem no período das águas subsequente”, eu expliquei, via um reels no Instagram, que uma consequência negativa de se ter um pasto muito alto no final da seca é a diminuição ou o atraso no aparecimento de novos brotos (perfilhamento) no pasto durante as primeiras chuvas da primavera. Isso ocorre, dentre outros fatores, devido à menor incidência de radiação solar na base das plantas, onde estão as gemas basais. Estas estruturas, estimuladas pela luz solar, se desenvolvem em novos brotos no início das águas. Nessa postagem, eu me limitei a explicar essa única consequência (comprometimento da rebrotação no início das águas) de um fato (pasto alto no fim do inverno). Porém, esse mesmo fato tem outras consequências que, em uma única postagem, eu não consigo abordar, simplesmente por limitação de tempo/espaço. Com efeito, é natural surgirem vários comentários ou críticas sobre essa postagem, em virtude de eu não considerar as demais consequências do fato em análise na minha pastagem. Provavelmente, as pessoas lançam tais críticas, porque não sabem ou não tem paciência para esperar as outras postagens complementares sobre o assunto.
Além disso, quando eu expliquei que “o pasto alto no final da seca atrapalha a rebrotação do capim no início do período chuvoso”, de modo algum eu estou recomendando que:
Primeiramente, você é livre e tem o direito de executar o manejo que quiser nas suas pastagens. Em segundo lugar, cada pecuarista tem um objetivo específico com o manejo de suas pastagens. E o manejo da pastagem deve ser adotado para atender ao objetivo do pecuarista. Logo, o manejo tem que ser distinto para pecuaristas com objetivos diferentes. No caso de você ser um pecuarista que tem como objetivo “fazer o seu capim rebrotar mais rápido no início da época das águas (pasto veloz)”, é adequado não ter um pasto alto demais no final do período de seca. Mas, pode ser que você seja um pecuarista com outros objetivos.
Por exemplo, se a sua pastagem está em início de degradação e você deseja recuperar sua capacidade produtiva, é apropriado que, dentre outras ações de manejo (correção, adubação, controle de plantas da ninhas, etc) você trabalhe com um subpastejo (pasto mais alto). Esse subpastejo planejado, embora resulte em baixo consumo da forragem (baixa eficiência de colheita), traz outras vantagens: restaura as reservas orgânicas do pasto; revigora o crescimento radicular do capim; aumenta o teor de matéria orgânica do solo; incrementa a serrapilheira (resíduo vegetal em diferentes graus de decomposição sobre a superfície do solo); deixa o solo mais bem coberto, o que impede o escorrimento e promove mais infiltração da água no solo (menor risco de erosão), bem como diminui o aparecimento de plantas daninhas. Essa condição de subpastejo pode ser conseguida com um diferimento ou vedação da pastagem por um tempo mais prolongado, o que resulta em alta massa de forragem diferida para uso na época de seca. Mas, esse pasto diferido por muito tempo geralmente não será bem consumido na época de seca (baixa eficiência de pastejo), pois sua morfologia (muito talo e material morto) dificulta o pastejo dos animais. Consequentemente, ao final da época seca, é comum que seu pasto previamente diferido esteja mais alto. Essa condição de pasto pode atrapalhar a rebrotação no início das águas. Mas, nesse caso, você aceita esse “problema menor”, pois seu “objetivo maior” é outro: recuperar sua pastagem que está em início de degradação.
Você também pode ser um pecuarista que possui uma pastagem sem indício de degradação, mas com baixa capacidade de suporte, devido à ausência de adubação de manutenção. Essa pastagem é normalmente chamada de “extensiva” ou de “baixo nível tecnológico” e geralmente tem capacidade de suporte anual abaixo de 1,0 UA/ha (1 UA = 1 unidade animal, o que equivale a 450 kg de peso vivo). Nesse novo cenário também é apropriado manejar o pasto mais alto, de modo a obter mais sobra de forragem (baixa eficiência de pastejo).
Por quê? Com mais sobre de forragem, aumenta-se a quantidade de serrapilheira. Esta se decompõe no período das águas, liberando nutrientes ao solo, em um processo chamado de ciclagem de nutrientes. Isso torna a pastagem menos dependente de entrada de nutrientes externos, o que desejável quando a adubação de manutenção da pastagem não é realizada. Por isso, em uma “pastagem extensiva”, seu pasto também pode ficar mais alto e com mais sobra de forragem ao término da seca. Novamente, essa condição de pasto pode limitar a rebrotação no início das águas. Todavia, nesse caso, você também aceita esse “problema menor”, pois seu “objetivo maior” é outro: diminuir a dependência de adubos, sem comprometer a produtividade da pastagem.
Por outro lado, se você é um pecuarista que deseja aumentar e acelerar a rebrotação do seu pasto, assim que iniciarem as primeiras chuvas de primavera, a manutenção de um pasto alto no final da seca não é adequada. A melhoria do processo de rebrotação do pasto no início das águas ganha importância relativa maior naquelas “pastagens intensivas” ou de “alto nível tecnológico”, que são manejadas com alta taxa de lotação no período chuvoso (acima de 4,0 UA/ha). Nessas pastagens, o investimento financeiro é alto em estratégias para obter maior produção de forragem, como o uso capins com alto potencial genético para produção de forragem, a adubação e a irrigação. Nesse sentido, deixar o pasto ficar “passado” (subpastejado) no final da seca representa um desperdício (baixa eficiência de pastejo) dessa forragem mais cara. Adicionalmente, esse pasto alto no final da seca, ao atrasar a rebrotação na primavera, também resulta em perda de oportunidade de produção de forragem na pastagem. Portanto, numa pastagem intensiva, o pasto tem que ser muito bem controlado, para evitar o sub e o superpastejo e, com isso, aproveitar o alto potencial produtivo do capim na época das águas.
Diante do exposto, penso que você percebeu que o fato de haver efeitos negativos de um pasto alto no final da seca sobre a produção de novos brotos no início das águas não significa que essa condição de pasto alto no fim de seca não resulte em outras vantagens na pastagem. E isso, em geral, acontece com outras ações de manejo da pastagem, que podem, ao mesmo tempo, gerar efeitos negativos sobre um determinado processo, mas também resultar em efeitos positivos sobre outros processos ocorrentes na pastagem. Cabe a você, manejador da pastagem, fazer o balanço entre os benefícios e as limitações das suas práticas. De posse dessa análise dos “prós e contras”, você deve tomar a sua decisão sobre como manejar a sua pastagem para alcançar o seu objetivo.
Por fim, mas não menos importante, quero deixar claro também que o fato de eu chamar a sua atenção sobre uma consequência negativa (atraso na rebrotação no início das águas) de uma ação de manejo (manutenção do pasto alto ou subpastejado no final da seca) não significa que eu estou recomendando que você trabalhe no outro extremo: manter o seu pasto “rapado” ou superpastejado no final da seca. O pasto “rapado” gera vários efeitos negativos ao animal em pastejo, como baixo consumo e desempenho e, em casos mais graves, até a morte do animal. O pasto “rapado” também resulta em vários efeitos negativos ao capim, como esgotamento das reservas orgânicas (“energia”), solo descoberto, maior risco de erosão e aparecimento de plantas daninhas, dentre outros. Dessa maneira, que fique bem claro: a crítica de um problema causado pelo subpastejo não é justificativa para você pensar ou julgar que o superpastejo é adequado. Ambas as situações extremas e opostas são ruins: superpastejo e subpastejo. Por isso, na maioria das vezes é apropriado que você maneje os seus pastos com uma altura ou massa de forragem intermediária, nem baixa e nem alta demais. Inclusive, é por isso que, quando um pasto se encontra baixo demais (superpastejado) no final da época de seca, é adequado que a pastagem permaneça por um tempo em pousio (sem animais) no início das águas, até que o capim recupere a sua quantidade de folhas e a sua altura apropriada, a fim de receber os animais para o primeiro pastejo na estação chuvosa.